domingo, 4 de abril de 2010

Eu era mudo e só

A perplexidade do moço diante de certas considerações tão ingênuas, a mesma perplexidade que um dia senti. Depois, com o passar do tempo, a metamorfose na maquinazinha social azeitada pelo hábito de rir sem vontade, de falar sem vontade, de chorar sem vontade, de fazer amor sem vontade... O homem adaptável, ideal. Quanto mais for se apoltronando, mais há de convir aos outros, tão cômodo, tão portátil. Comunicação total, mimetismo: entra numa sala azul, fica azul, numa vermelha, vermelho. Um dia se olha no espelho, de que cor eu sou? Tarde demais para sair pela porta afora.





Lygia Fagundes Telles (Antes do Baile Verde)



Musgo, não é? Não sei porque quero agora ser planta, eu que fui mineral. Dura como pedra. Desmoronei de alto a baixo e agora estou aqui como um pedregulho no fundo desta almofada ...
LFT

4 comentários:

  1. "Dura como pedra."

    fantástico esse fragmento de Lygia :)


    não conhecia esse texto.


    qual livro de Lya você-tem-que-nunca-leu?

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  2. Infelizmente sempre somos obrigados a ser um pouco
    "adaptável"
    Quem nos dera se pudéssemos ser nós mesmos, sem críticas ou falsos elogios!!!
    eu também não me lembrava desse texto da Lygia :)
    Muito bom mesmo!!!

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  3. HUm...

    Digamos...


    Adorei as fotos *-*
    Sabe que tenho paixões fortes né?

    E..
    Ah, nem preciso falar dos textos.
    Tu saaaaaabe.

    beijo da desnaturada.

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É para você que escrevo, é para você.