quarta-feira, 28 de abril de 2010

Resíduo

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.


Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.


(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.




Carlos Drummond de Andrade

3 comentários:

  1. esse poema de Drummond me dá uma angústia.


    e nunca sei porquê.

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  2. Rodolpho,meu caro futuo literato!
    Apenas você é capaz de cavar coisas tão belas!
    Veja que coisa: estou cada vez mais lendo sobre angustia,mas não consigo sentila plenamente ( oque na verdade já causa certa angustia ).

    É lindo e verdadeiro demais.Deixamos nossas marcas,nossos rastros por esse mundo...Os residuos de nossa penosa passagem por esse labirinto.


    Abraços,meu caro futuro literato!

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É para você que escrevo, é para você.