domingo, 4 de julho de 2010

Damas e cavalheiros, antes de nos separarmos, antes de partimos… (os que tinham levantado sentaram-se) falemos em palavras simples, sem rodeios, enfeites ou hipocrisia. Quebremos o ritmo, esqueçamos a rima. Pensemos calmamente em nós mesmos. Nós mesmos. Alguns, ossudos; outros, gordos (os espelhos confirmam). A maioria de nós, mentirosos. Ladrões (os espelhos não fizeram nenhum comentário sobre isso). As pobres, tão maus quanto os ricos. Talvez piores. Não se escondam atrás de seus farrapos, não queiram abrigar-se em suas roupas. Nem se ocultem atrás do saber que buscam nos livros; nos exercícios ao piano; nos quadros que pintam. Não presumam que a infância seja inocente: pensem nos carneiros. Ou que exista lealdade no amor: pensem nos cães. Ou que exista virtude nos cabelos brancos: pensem nos que matam com fuzis e jogam bombas. Eles fazem abertamente o que nós praticamos furtivamente.


Entre os Atos; tradução de Lya Luft; Virginia Woolf.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

É para você que escrevo, é para você.